domingo, 27 de fevereiro de 2011

Morte de última geração

superpopulação - China


Superpopulação, Terra sobrecarregada. A Natureza contribuía com calamidades, porém não havia mais grandes guerras e a Morte não dava conta de esvaziar o planeta. Convocou a Química, a Mecânica e a Eletrônica e as instruiu para que criassem elementos danosos para o homem. Feito isso, bastou pedir apoio à Grande Mídia e deixar que a ignorância humana fizesse o resto.


escrito em 13-02-2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Torne melhor algo que seja triste

imagem da web - take a sad song



Encontrou escrito na janela do quarto do filho. Percebeu, então, o quanto devia magoá-lo. Afinal, tinha ficado viúva, mas ele estava ali esperando seu amor e era um presente da vida. Ao abençoar o que tinha de bom, começou a deixar pra trás a melancolia.


escrito em 20-02-2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Channabis

imagem encontrada no google


Festa adolescente. As velhas tias riam à toa, embora estivessem ali para controlar os jovens. Todas adoraram a festa e o chá, tão diferente, estava delicioso. Os garotos misturaram à infusão, folhas de cannabis e se divertiram como nunca.

escrito em 20-02-2011
ao Gustavo que fez o chá.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cobrança



Na tela do celular: - Por que você ainda não me ligou?

A mensagem foi lida pelo policial ao encontrar o corpo do jovem baleado.



escrito em 09-02-2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Lívia e o meu jantar

Conium Maculatum - Cicuta


Depois te comer as flores do centro de mesa, Lívia passou mal até morrer. Desconhecendo sua preferência alimentar, não escolhi as espécies. O arranjo de ervilhas de cheiro entremeado com cicuta foi uma homenagem singela, tanto à delicadeza feminina como à sua paixão pela filosofia. Paralisada e gélida ela me parecia ainda mais bela. Pude então me deslumbrar com seu corpo virginal e ali mesmo consumar meu desejo até então rejeitado.

escrito em 15-02-2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um jantar para Lívia

la traviata 66 cartaz da ópera


Cuidei para que a refeição fosse tão delicada e gentil quanto a jovem me parecia. Suaves iguarias, renda, porcelana e prata, finos cristais e o cardápio mais requintado e leve que pude imaginar. Lívia rejeitou todos os pratos. Com dedos longos e pálidos puxou para sua frente o arranjo colorido que ornava o centro da mesa e, uma a uma, deliciou-se com todas as flores.

escrito em 12-02-2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A janela discreta

e ninguém mais entrou - Luís Carinhas


Sofreu como espectadora de lutas, doenças, mortes e rancores. Então se cobriu de mofo e sujeira, vedando a passagem da luz. As plantas comungaram fechando-a com galhos secos, espinhentos e agressivos. Assim sepultariam, dentro, a história escrita pelos corpos que se consumiram em ódio.


escrito em 05-02-2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sintonia materna



Chuvas pesadas e constantes, hecatombe nas cidades serranas. Casas e corpos sob a lama e os dejetos afetando a distribuição de água na capital.

A mãe morava na serra, mas resolvera passar dias com a irmã, bem longe. Quando tudo acalmasse ia buscá-la para uns dias juntos na cidade grande. Calor excessivo. No banho, o chuveiro emperra, ah... as obras no prédio! No dia seguinte reclamaria com o síndico. Acorda suando, um pesadelo somado ao verão febril o faz retirar o chuveiro a refrescar-se com o jorro direto do cano. A água morna não alivia e ainda lhe acerta a cabeça com alguma coisa que a mão retira dos cabelos. Presa a um osso carcomido, uma unha humana. Horror! Ao fechar a água, um som metálico quica algo no ladrilho. No chão, um anel igual ao que dera à mãe no Natal.

Não, não havia chegado em casa da tia, conforme o previsto.


Escrito em 03-02-2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cheia

imagem composta por Angela


O gato e a gata
O muro e a lua
Quanta fuzarca!

escrito em 29-01-2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Águas redentoras

Luaa - imagem recebida em pps


Primeiro filho e a mãe, radiosa, deu-lhe uma gestação de paz e alegria, mas muito cedo, sérios problemas familiares roubaram-lhe a infância. Na hora do crepúsculo, sai para o mar. Rema por horas na imensidão das águas escuras onde reencontra a serena alegria uterina para retornar, abastecido, às dificuldades do cotidiano.


escrito em 30-01-2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O balanço

cadeira de balanço - foto assinada


Assim desejava morrer, dizia. Calma, tranquila, sentada em cadeira de balanço. Como a respiração, no ir e vir, não voltaria mais. Não tinha uma cadeira assim em casa. Herdou uma, por sinal boa e bela. Passava ao largo da dita, nem pensar em sentar nela!


escrito em 05-02-2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Diluição

gaivota

muito tempo encapsulada, se preparava no escuro e em silêncio. A hora estava próxima embora a maioria desacreditasse. Seu corpo aceitava os comandos da mente e se transmutava. Quando a tormenta começou, pela janela aberta voou alto, acima das águas e dos gritos borbulhados. não se sabia mais compassiva.


escrito em 30-01-2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cristal

Janela para o Céu - Fabrício Sthel


Serenidade. Assim a viam até o momento em que perdeu a rigidez aprendida na infância. O primeiro sinal de descontrole apareceu quando a morte rondou sua vida. O desequilíbrio quando se apaixonou por ela.


escrito em 05-02-2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Natureza

HumanNature


Escondido entre as folhagens do parque espiava um animal que paria várias crias, as lambia e depois alimentava nas tetas. Não entendia aquele processo, pensava que todos os seres saiam de ovos ou casulos, nutriam-se do verde e sozinhos faziam seu percurso até a morte. Vivia na mata e sempre se acreditou lagarta. Era humano.


escrito em 29-01-2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Aleluia!

imagem google


Fazia muito tempo buscavam, nos conventos e nas orações, o imaginado amor divino. Quando seus corpos se uniram pela primeira vez, um coro angelical cantou em seus ouvidos o esperado encontro.


escrito em 28-01-2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Réplicas

metro - imagem do google


Tinha sonhos recorrentes de estar num banco de metrô sem saber para onde ia. Naquela tarde, voltando para casa, cochilou no vagão. Ao acordar desconheceu o lugar e as palavras escritas ou faladas. Dentro de sua bolsa, exceto a foto, objetos e papéis não eram seus. Noutra parte do mundo uma moça foi encontrada dentro do metrô. Parecia dormir e tinha na bolsa, documentos em ordem. Foi reconhecida, mas estava morta.

escrito em 01-02-2011

Volta às aulas

propaganda em spam


Em criança, ir à escola era um prazer e nunca parou de estudar. Senil, quando some de casa, sempre o encontram à porta do grupo escolar segurando a mala infantil cheia de lápis, cadernos e a inesquecível merenda.


escrito 29-01-2011